No interior de uma fábrica de charutos, um adolescente de 15 anos ousou gritar bem alto: “mãe, viva a revolução”. Estávamos em Havana e vivíamos dias exaltantes. Há muito tempo que desejávamos conhecer a Cuba de Fidel. Foi há mais de quinze anos e o líder Cubano, ainda bem de saúde, estava longe de entregar o poder ao irmão Raúl, o que só veio a acontecer em 2006.
Sentimos que estávamos a fazer uma longa viagem no tempo: anos 50. “Havana la vieja”, o café frequentado por Hemingway, a música sensual da “tropicana” com os corpos provocantes das bailarinas fixando a atenção e atraindo os dólares dos turistas.
A cidade, bela e decadente, com a sua arquitectura única, conduzia-nos a um outro mundo: a Guerra Fria, a crise dos mísseis, a serra maestra, o granma, a ditadura de Fulgêncio Batista e a revolução de Fidel, Che Guevara e do ideólogo José Martí.
A revolução cubana preenche centenas de páginas da história do século XX, mas foi opressiva, violou direitos humanos, eliminou liberdades, fez presos políticos e criou uma das maiores comunidades de exilados políticos em Miami.
Gerou simpatias e adversidades. No café La Flore, em Paris, no Boulevard Saint-Germain, Jean Paul Sartre envolvia-se em discussões incendiárias começando por defender a revolução cubana e terminando a condená-la.
E ainda no mundo das letras, criou-se uma profunda inimizade entre dois vultos da literatura sul-americana: Gabriel Garcia Marquéz, pró-Fidel, e Mário Vargas Llosa, anti-Fidel.
É este o guião de todas as revoluções: amores, ódios, heróis.
Será que a História irá absolver Fidel?
Judite Sousa
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