O ecrã do computador tem uma função semelhante à da varanda da Julieta, simplesmente proporciona-nos o contacto com mais do que uma pessoa, enquanto Julieta só tinha acesso ao seu amado Romeu. Há, no entanto, muitas histórias que acabam bem e a facilidade de comunicação através da internet permite criar laços, estabelecer conversações que de outra forma não seriam possíveis.

A evolução das tecnologias e a consequente mudança de mentalidades gerou uma quebra de tabus.

A desinibição através das redes sociais e a livre comunicação que anula fronteiras e encurta distâncias é real. Há cada vez maior liberdade de contacto, mais acessível a todos, mais fácil.

É curioso observar que tal se inicia nos primórdios do século XX, em que a emancipação das mulheres e o cinema vão paulatinamente operar na mudança de perspectivas, nomeadamente em relação aos afectos: os primeiros beijos e os primeiros abraços surpreendem. A submissão das mulheres começa a ser descartada em detrimento da sua independência e autonomia em relação ao sistema ocidental patriarcal, tanto que a feminilidade é vivida de forma mais livre e glamorosa. Coco Chanel e Christian Dior agiram nesse sentido, embora diferentemente: Chanel apostou na liberdade das mulheres e na libertação dos arames e chapéus exuberantes, enquanto Christian Dior reafirmou o romantismo feminino através de tecidos vaporosos e jóias cintilantes.

A condição da mulher no nosso tempo continua a ser discutida sob múltiplos ângulos.

Foram conquistados direitos políticos, o acesso ao ensino e à educação democratizou-se, as mulheres entraram nas administrações das empresas e, nos países do sul da Europa, foi vencida a última fronteira masculina no exercício de cargos políticos.

Porém, subsistem inúmeras assimetrias de género, principalmente nos escalões mais baixos da esfera social. Há ainda um proletariado feminino que não tem condições económicas para poder afirmar a igualdade e, mais importante do que isso, a liberdade de poder dizer que sim ou que não.

Judite Sousa