As feridas tardam em sarar

Não há como esquecer. As marcas das feridas não desaparecem. Permanecem ocultas, mas estão lá. Mais intensa do que a dor da rejeição, é a dor da indiferença. Sentirmos que aquilo que somos, aquilo que sentimos, que a nossa capacidade de dar e de entrega não comove aqueles que estão perto de nós e que, acreditamos, nos amam.

Muitas vezes, estamos a mentir perante nós próprios. Queremos enganarmo-nos e tropeçamos na ideia do perdão ou do não perdão.

Tenho para mim que os fracos não sabem perdoar. Falta-lhes a grandeza para olharem os outros com abnegação e condescendência e conseguirem libertar-se dos seus demónios.

Mas há diversos tipos de perdão. O que nos destrói fica para sempre. É como uma queimadura que deixa marca e essa marca nunca sai. É uma espécie de fatalidade.

Gustav Flaubert (século XIX) falava com frequência do poder da fatalidade e confessava na sua correspondência que não se sentia livre.

As feridas psicológicas são as que mais tardam em sarar. Quando conseguimos libertar-nos delas, é um alívio. Mas nem sempre isso acontece, até porque há pessoas que vivem todos os segundos das suas vidas marcadas pela ferida. Dói muito. Sangra.

Judite Sousa

 

 

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